sábado, janeiro 31, 2009

Onde moram as histórias






















Eu tinha um cachorro quando criança. Tinha, da forma como se pode ter um cachorro morando na roça. Era tão livre o "meu" cachorro, o cercado de arame não impedia as suas aventuras por matas. De vez em quando, ele voltava com o focinho espetado por espinhos. E foi assim que eu soube de um bicho esquisito, o porco-espinho. O Duque (esse era o nome) trazia um pouco do mistério da mata. E por que eu achava que o cachorro era meu? Não sei ao certo. O Duque era malhado, não me lembro como nem quando ele chegou em casa, mas nessas lacunas moram as histórias.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

As coisas mais próximas de nós

















Escrever e desenhar são formas de olharmos para as coisas simples, que nos são próximas, mas lançando um novo olhar. Assim, enquanto fazia esses desenhos, lembrei que a comida em casa era quase tudo tirado da terra. As verduras, as batatas doces, a mandioca, o café... Até linguiça era feito em casa. Nada foi mais divertido do que ajudar nessa empreitada que era uma festa. A carne de porco, moída na máquina e temperada com sal, alho, pimenta, entrava numa outra máquina e saía dentro de uma pele bem fina que dava o formato comprido, voltas e mais voltas de tão comprido. Outra coisa muito divertida, que cabia a mim e a minha irmã, era furar com uma agulha essa linguiça, que ia soltando a gordura. Pronta, ficava pendurada em cima do fogão, a gordura pingando pelos furos e caindo no fogo, espalhava um cheirinho gostoso de defumado pela casa. Sempre tinha algum cheiro nos envolvendo. A minha irmã esteve nos Estados Unidos e comentou sobre uma lareira artificial, que aquecia, mas faltava o cheiro da lenha. Lembrei do "Não verás país nenhum" de Inácio de Loyola Brandão, nesse livro as pessoas precisam comprar cheiros.

sábado, janeiro 17, 2009

Quando a idéia não chega











Quando estou ilustrando e não vem nenhuma idéia, tento algumas possibilidades para puxar a imagem. Como por exemplo, fazendo pesquisa. Foi assim que encontrei uma foto de um tucano bicando caqui. No texto não tem tucano nenhum, mas fala de vizinho que gosta de caqui. Tucano não pode ser um vizinho? Claor que pode.
Outras vezes, jogo o texto no espaço e fico olhando o branco. Ou então, busco as imagens enquanto caminho, antes de dormir... E se, nada disso funcionar, deixo pra lá. Num momento inesperado, elas aparecem. O desenho embaixo tem a ver com girar e com rolar.
Assim que este projeto estiver mais maduro, pretendo contar mais.

sábado, janeiro 10, 2009

As marcas da mão


Um dia, mostrei fotos dos quadros que pintava e também algumas ilustrações para o professor e grande gravurista Evandro Jardim. Nunca esqueci o comentário dele — "você não deve pensar que são dois caminhos, mas apenas um, tanto a ilustração quanto a pintura". Voltei muito grata com a sua orientação, mas eu ainda não tinha a capacidade de deixar as pinceladas nas ilustrações. Aos poucos, depois de muitos anos, é que comecei a criar coragem e deixar a marca das mãos, seja em pincelada, seja em traços de grafite... ainda, vez ou outra, me vejo querendo retocar demais.

Pinturas antigas






























































Comecei o ano fazendo uma limpeza na casa. E aí, acabei revendo os quadros antigos a óleo. Creio que pintei durante uns três ou quatro anos e parei. Ou melhor, decidi aplicar tudo que aprendi sobre cores, pinceladas, composição, nas ilustrações de livros para crianças. A pintura fez parte de um processo, busca de uma linguagem para tentar encontrar a minha forma de expressão. Não tenho mais pintado em óleo, pinto com guache, aquarela, lápis... e porque não dizer, com palavras.